Breve História do Shibari: Da Tortura à Arte Erótica

O Japão é um país conhecido por sua rica cultura e tradições, muitas das quais datam de séculos. Entre essas tradições, uma prática se destaca por sua combinação única de estética, técnica e emoção: o shibari. Mas, como uma forma de amarração de cordas evoluiu de uma técnica de tortura para uma arte erótica apreciada mundialmente? Vamos falar um pouquinho dessa jornada nesse artigo.

Imagem Retirada do Link: Dangerous Minds

As Raízes do Shibari

No Japão feudal, a escassez de recursos minerais, como o ferro, levou ao desenvolvimento de soluções criativas para diversas necessidades, incluindo o combate e a contenção de prisioneiros. Durante períodos de guerra, os samurais e outras forças de defesa utilizavam cordas para imobilizar seus inimigos, uma técnica conhecida como hojojutsu. Mais do que uma simples amarração, o hojojutsu era uma forma elaborada de tortura, onde as cordas não apenas restringiam, mas também infligiam dor, humilhação e sofrimento psicológico.

Imagem Retirada do Link: Hojojutsu Training

Essas práticas eram uma resposta à necessidade de contenção eficaz em um país onde as algemas de metal eram escassas. A técnica do hojojutsu não era apenas funcional, mas também carregava um profundo significado cultural, refletindo os valores da honra e do controle que permeavam a sociedade japonesa da época.

A Evolução para a Arte Erótica

Avançando para o início do século 20, vemos uma transformação significativa na maneira como as cordas eram utilizadas. Um dos grandes responsáveis por essa mudança foi Seiu Ito, um artista que, na década de 1920, começou a retratar mulheres amarradas em suas pinturas. Esses retratos, que combinavam a estética do hojojutsu com elementos eróticos, marcaram o nascimento do shibari como uma forma de arte.

Seiu Ito é amplamente considerado o "pai do shibari". Suas obras não apenas influenciaram outros artistas da época, mas também começaram a transformar a percepção do público sobre a amarração com cordas. O que antes era visto como um ato de tortura começou a ser reinterpretado como uma expressão artística e erótica.

Com o tempo, o shibari evoluiu para o kinbaku, uma prática que foca na "amarração perfeita" e é associada a experiências sensoriais, eróticas e sexuais.

Shibari e Kinbaku: Entendendo as Diferenças

Embora no ocidente os termos shibari e kinbaku sejam frequentemente usados de forma intercambiável, há nuances que valem a pena explorar. No Japão, o termo shibari simplesmente significa "amarrar" em um sentido amplo. É um verbo usado no cotidiano para se referir a qualquer tipo de amarração.

Por outro lado, kinbaku refere-se especificamente à prática de amarrar pessoas dentro de um contexto sensual e/ou sensorial. A palavra kinbaku pode ser traduzida como "amarrar bem" ou "amarração rigorosa". Portanto, enquanto o shibari pode se referir à técnica e à estética da amarração, o kinbaku envolve um nível mais profundo de conexão e intenção, onde as cordas se tornam uma extensão da comunicação e da expressão emocional entre o rigger e o modelo.

A Ascensão do Shibari na Cultura Popular

Imagem retirada do link: Kinbaku Today

O shibari ganhou popularidade na cultura japonesa principalmente através da mídia. A icônica revista The Kitan Club, que abordava temas de sadomasoquismo e erotismo, foi fundamental na disseminação do shibari. As imagens de amarrações complexas e belas, muitas vezes apresentando o shibari como a temática principal, inspiraram uma geração de riggers e praticantes.

Com o advento da tecnologia e a disseminação de fitas VHS, o shibari transcendeu as fronteiras do Japão. Rigadores talentosos tornaram-se verdadeiras estrelas, levando a arte do shibari a um público global. À medida que o shibari se espalhou pelo ocidente, ele evoluiu, adaptando-se às culturas locais e gerando novas escolas e estilos.

Conclusão: O Shibari Hoje

Hoje, o shibari é uma forma de arte complexa e multifacetada que continua a evoluir. Seja no Japão ou no ocidente, a prática não se limita a uma única interpretação. Desde as amarrações mais estéticas e visuais até as experiências mais intensas e emocionais, o shibari oferece algo para todos que desejam explorar a profundidade da conexão humana através das cordas.

Enquanto algumas escolas de shibari se concentram na beleza visual das amarrações, outras valorizam a relação emocional entre o rigger e o modelo. Todas essas abordagens são válidas e enriquecem a prática, tornando-a acessível e atraente para um público diversificado.

Assim, da tortura à arte, o shibari percorreu um longo caminho. E, como qualquer arte, ele continua a ser moldado e redefinido por aqueles que o praticam e apreciam. Seja qual for a sua abordagem, o shibari oferece uma oportunidade única de explorar a conexão humana, a estética e a emoção em uma dança complexa e bela com cordas.

Esse texto foi criado pela Shibari Brasil e sua reprodução é estritamente proíbida.

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